quarta-feira, 28 de novembro de 2012

domingo, 25 de novembro de 2012

Aprender a ensinar


Estava fazendo estágio e resolvi compartilhar com vocês a experiência do meu primeiro dia. É uma escola só para o ensino de jovens e adultos, organizada, não vi indisciplina, as salas são pequenas... Ainda assim, estou chocada com o que vi! E não, o problema não eram os alunos.

Era aula de inglês e os estudantes cursam o que corresponderia ao 6º ano. A professora entrega então suas folhas de atividades e dicionários para os alunos e explica: “vocês estão aprendendo a aprender inglês. Vamos traduzir essas frases!”. Aprender a utilizar o dicionário poderia ser uma atividade muito interessante Poderia. A tradução era palavra por palavra: in, this, month, it’s, hot... Eu acho bem complicado isso de traduzir sem ter quase nenhuma noção da língua, mas vamos lá, as frases eram simples...

Os alunos estavam com dificuldade em achar as palavras no dicionário e ela não tinha paciência para esperá-los.

-Presta atenção! Você está procurando na parte errada! Inglês – Português é na parte vermelha do dicionário. Aqui! – E não explica que o dicionário estava dividido em duas partes bem diferentes.

-Não, você está muito longe. Onde está o i? Lembra: a, b, c d...? – E toma o dicionário da mão da menina e coloca na página da letra i.

-Prestatenção!

Os alunos acham as primeiras palavras, mas falam que não sabem ler o que está escrito em seguida (a transcrição fonética) e ela não se dá ao trabalho de nenhuma explicação a respeito. Também não entendem as letras que aparecem ao lado (as abreviações de substantivo, verbo, adjetivo), mas esse a professora tenta explicar.

-Esse s aí é de subjuntivo, adjuntivo, não substantivo... – e segue sem dar maiores explicações de como isso poderia ajudá-los a entender a palavra em questão, do que as outras siglas representam...

-Presta atenção! Essa palavra aqui eu vou dar de bandeja pra vocês: it’s quer dizer é.  – Ponto final. Nada sobre o pronome it, muito menos sobre a contração ‘s... Uma aluna até perguntou, é não é is? De my name is...? Ela ignorou a pergunta.

-Many não é dinheiro, professora? – pergunta uma aluna, ela responde que não, que procure tudo no dicionário sem dar nenhuma explicação sobre a diferença entre money e many que a menina confundiu. Ela não ensina a pronúncia de nenhuma palavra, é como se dissesse que nem valeria a pena, porque não iriam aprender mesmo.

-Vocês precisam aprender a buscar no dicionário, para terem autonomia, ela diz. Mas resolve conferir os cadernos.

- Está uma bagunça danada, prestatenção!

-Sou cavalo, professora, copiei tudo errado.

-Escreve aqui, pula uma linha, escreve a caneta. Você não copiou a pergunta? Deixa eu começar para você... – e escreve no caderno de outra aluna.

Quando ela pegou a borracha e começou a pagar o caderno de uma aluna, porque ela não tinha pulado a linha ou escrito no lugar errado eu não acreditei. Eram alunos adultos e a professora estava apagando o caderno deles! A mensagem que fica é que nem para isso eles serviam. Mas ficou pior. Ela resolveu que era melhor mudar a disciplina a ser ensinada.

-Acho melhor eu dar português primeiro, que vcs estão com muita dificuldade!

Dos seis alunos da classe, ela falou para três continuarem no exercício de inglês e para os outros três passou uma atividade de leitura em português. Depois perguntou o que eles preferiam e eles concordaram que precisavam melhorar o português. Mas, claro, depois da professora dizer a eles que não tinham capacidade nem de copiar a lição em seus cadernos sozinhos!

Quando ela saiu da aula os alunos começaram a reclamar e me falaram o que gostariam que ela fizesse: que a letra fosse mais legível e a lousa organizada (como ela exigia de seus cadernos) e que ensinasse a pronúncia das palavras.

-Eu perguntei o som do w ela me deu uma patada, não pergunto mais é nada.

Uma das alunas parece ter dificuldade de alfabetização. Para essa, a primeira que ela resolver ensinar português ela pega um livro sobre Picasso e pede que leia. Livro sobre um pintor, mas sem figuras, sem nenhum contexto e ainda envergonhando-a na frente dos demais. Para os outros dois alunos que ela preferiu ensinar português, ela pediu para lerem um pequeno texto da apostila.

-Leiam só até aqui! – E marcou bem com as mãos um pequeno trecho. Vai que eles resolvem ler até o final da página, que perigo, né?

Eles não entenderam uma metáfora do texto e ela explicou tão de qualquer jeito que eu, que não estava com a apostila em mãos fiquei me perguntando do que eles estariam falando que parecia tão sem sentido. Para os alunos tampouco ela conseguiu esclarecer a tal metáfora, que não devia ser complexa, afinal era um texto da própria apostila.

Ela falava que estava ensinando-os a ter autonomia na aprendizagem ao mesmo tempo que dizia, com outras palavras, que eles não eram capazes de aprender inglês, que nem valia a pena ensinar a pronúncia, ensinar corretamente o significado e que, pensando bem, nem valia a pena ensinar inglês para eles... Álias, desconfio que o nível do inglês dela devia ser bem ruim e fiquei pensando até se a minha presença não a intimidou – o que de jeito algum justifica o desrespeito com os alunos, claro!

Os alunos eram muito legais, apesar de tudo. Assisti uma semana depois outra aula deles, com uma outra professora, dessa vez sim, a de português. E surpresa: eles não tinham tantas dificuldades assim! Um dos que foi excluído da aula de inglês para ler apostila tinha até facilidade para escrever versos com rimas! Ela também tratava eles com respeito, incentivava-os, não mandava eles pularem linha para escrever, como a outra fazia (e que é coisa de segunda série) não gritava nem mandava os alunos já calados e tímidos prestarem atenção. 

sábado, 10 de novembro de 2012

Lembrança de Nosso Senhor do Bonfim

Sol de janeiro de Salvador. Depois de andar os 8 quilômetros da procissão do Senhor do Bonfim, nos deparamos com avenidas fechadas e ruas vazias na volta. Na frente de um pequeno prédio, o segurança parecia imóvel. Óculos escuros, terno e gravata pretos.

-Por favor, você sabe onde eu posso pegar um ônibus ou um táxi por aqui?
-Lá no final desta rua.
-Aqui mais perto não tem nada?
-Não.
-Mas está tão longe!
-Moça, vai no balanço do samba que você chega lá.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

-'Nós peguemo' está errado, né professora?
-Esse é um jeito mais informal, como você escreveria de um jeito mais formal?
-É 'nós peguemos', né?

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

domingo, 23 de setembro de 2012

O mundo é grande

                                      

O mundo é grande, mas a gente esquece. A gente se tranca em salas pequenas, em cadeiras apertadas e em frente a frias telas vai esquecendo antigas paixões. A boa notícia é que elas continuam lá, esperando a gente dar uma chance para voltarem à tona, para fazerem nosso coração bater e a cabeça sonhar novamente.
Tudo isso para falar que viajei com o British Museum essa semana, de um jeito que eu nem lembrava mais que podia. Grécia, Egito, Persia e oriente médio são algumas das partes mais impressionante.




Ah, os gregos! Muitas das estátuas gregas chegaram até nós sem a cabeça, os braços, às vezes um torso ou alguma parte do corpo são tudo que sobrou. E o mais impressionante é que como esse "pedaço" basta. Tem força, tensão, emoção próprios. Parece que cada músculo desenhado na pedra diz tanto sobre nós quanto a peça completa poderia fazer. No final do século 19, fascinado com sua força, Rodin se inspirou nessas peças incompletas para fazer suas esculturas - também incrivelmente expressivas, mas essa é outra história.

Mesmo diante de algumas das coisas mais importantes já feitas pelo homem, muita gente parecia mais interessada em tirar uma foto engraçadinha ao lado da múmia para pôr no facebook do que em observar ou aprender alguma coisa. Sem contar os que quase esbarram nas peças o tempo todo - sim, o museu está sempre cheio e podemos chegar muito perto de quase todas elas. Como disse meu irmão: "os objetos nos lembram de como a humanidade pode ser grandiosa e os turistas de como ela pode ser pequena".
Por fim, preciso dizer que não evito ficar um pouco irritada vendo tanta coisa incrível tão longe de onde deveria estar. Muitas coisas egípcias, assírias, persas... Uma parte do Partnenon está ali, e não em Atenas, por exemplo!  Com seu poder econômico, a Grã Bretanha roubou pegou muita coisa que é da história e cultura de outros povos e nunca mais devolveu. Estava pensando que um pedacinho de Stonehenge iria ficar ótimo ali no vão do Masp, o que vcs acham? Os ingleses adorariam o empréstimo, não?


Do Egito, só faltou mesmo trazerem as pirâmides! 

sexta-feira, 20 de julho de 2012

entrave criativo...


Presos ao cubículo da caixa craniana os pensamentos estão. Sentem saudade da época que eram leves e descomprometidos... voavam por aí sem barreiras... Agora não se lembram mais de como é bom ler um livro. A tela da televisão e do computador os hipnotizam e os fazem ficar cada vez mais pesados e preguiçosos... A sua única habitante é a cama, quentinha e gostosa, e dormir seu único desejo.  

terça-feira, 3 de julho de 2012

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Da loucura

Dom Quixote e Sancho Pança – um por conta da loucura e outro da ingenuidade – se esforçam para acreditar em suas aventuras. Buscam se perder nas histórias, pois intuem que só assim conseguirão se encontrar. É a loucura de Dom Quixote que permite a ele unir suas ações ao que sente e pensa, a colocar-se no mundo da forma inteira como deseja. É também a loucura de Dom Quixote que dá a Sancho uma outra perspectiva de vida e uma outra forma de colocar-se, sem precisar abrir mão de suas raízes e de quem sempre foi. Se esta é uma loucura libertadora, que dá sentido à vida, é preciso acreditar nela. É preciso criá-la se for o caso.

E nós, para ser quem sentimos que somos, não precisamos também sustentar alguma forma de loucura ?

domingo, 20 de maio de 2012


when life has vanished from one's soul, 
when the world's colors have bleached, 
when hope has become just a word, 
and there is nothing left in the heart but pain,
what can one do?

sexta-feira, 11 de maio de 2012

O que há além da floresta fechada das palavras? Imagino um campo aberto, onde consigo enxergar lá longe no horizonte, no fundo do meu ser.... mas como eu chego lá?


quinta-feira, 26 de abril de 2012

A música criou um lugar onde ela podia se refugiar. Como uma concha de som em que entrasse e se deitasse e lhe falassem ao ouvido, sem palavras, tudo que ela sentia e não saberia dizer, e aquilo que não sentia, mas precisava. Era um abraço quente que entrava pelos ouvidos, mas dava voltas no estômago.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Ícaro

Tudo é mais colorido perto do sol, é para lá que eu vou! Voando, voando... será que chego lá? Céu imenso... vácuo... nada... é tudo que vou encontrar no caminho... vou me deixar guiar pela tua luz! Brilhante, radiante, branca, queima minhas retinas, mas não consigo parar de te desejar. Quando te encontrar vou me envolver no calor do último abraço e me tornar um contigo...

terça-feira, 3 de abril de 2012


-Olha mãe, não é bonito esse desenho?
-É, quem fez?
-Adivinha!
-A Argos?
-Não, mãe, Picasso.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Um sussurro no ouvido

Por que vou fazer um trabalho com antecedência e bem feito se posso fazê-lo rápido, na pressão e mal feito?


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Um dia eu apontei para uma cidade no mapa e fui atrás dela. Era longe daqui, frio, estranho, mas eu achei que assim seria mais divertido.
Hoje eu aponto para um lugar aqui mesmo, mas é tão difícil chegar! Onde ficava mesmo? Aquele estado que eu preciso visitar constantemente para não esquecer que existe ?