quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Ontem ele estava aqui indo e vindo, voando e pousando no meu teclado.

- Saí bichinho, eu preciso trabalhar, não tenho tempo.

Entrou embaixo das teclas. Saí daí, preciso escrever, não posso te esperar. Preciso digitar essas letras. Ainda está aí? Vê se saí, eu vou embora, já estou atrasada, não tenho tempo de te tirar do teclado. Nem sei como.

Eu não tinha tempo, mas ele, sim. Aquela era a hora de ir e vir, voar e pousar. Hoje, na mesa, suas asas. Delicadas, transparentes, duas gotas de ar feitas para voar por uma tarde inteira e nada mais.

7 comentários:

Sarah disse...

muito bonito. Lembrei de um poema de um livro de português, não sei se era da ETE, mas que tinha a ver com o óculos na mesa e ele comparava com um inseto, acho que era gafanhoto. Alguém se lembra deste poema?

Anônimo disse...

eu não lembro. mas muitas vezes já quis ser uma mosquinha hehe
argos

Anônimo disse...

Para Chaves....

PAUSA
Mário Quintana

"Quando pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na leitura de coisas feitas, ou na feitura de minhas próprias coisas, surpreendo-me a indagar com que se parecem os óculos sobre a mesa.
Com algum inseto de grandes olhos e negras e longas pernas ou antenas?
Com algum ciclista tombado?
Não, nada disso me contenta ainda. Com que se parecem mesmo?
E sinto que, enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem-poema, a inquietação perdurará.
E, enquanto o meu Sancho Pança, cheio de si e de senso comum, declara ao meu Dom Quixote que uns óculos sobre a mesa, além de parecerem apenas uns óculos sobre a mesa, são, de fato, um par de óculos sobre a mesa, fico a pensar qual dos dois – Dom Quixote ou Sancho? – vive uma vida mais intensa e, portanto mais verdadeira…
E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da recriação das coisas em imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida.
Esse enigma, eu o passo a ti, pobre leitor.
E agora?
Por enquanto, ante a atual insolubilidade da coisa, só me resta citar o terrível dilema de Stechetti:
“Io sonno um poeta o sonno um imbecile?”
Alternativa, aliás, extensiva ao leitor de poesia…
A verdade é que a minha atroz função não é resolver e sim propor enigmas, fazer o leitor pensar e não pensar por ele.
E daí?
– Mas o melhor – pondera-me, com a sua voz pausada, o meu Sancho Pança – , o melhor é repor depressa os óculos no nariz."

O curioso é que eu também me lembrava desse poema como sendo uma comparação mais, digamos, incisiva entre um par de óculos e um gafanhoto.

Anônimo disse...

E também me fez lembrar de um poema, em que o escritor fala da insignificante vida de um pernilongo, que ele mata tão indiferentemente contra a parede, mas que era a única vida que o inseto tinha.

ma disse...

Adoro Quintana!!!

Sarah disse...

Oi, foi o Argos ou o Maia que achou o poema?

De qualquer forma, muito obrigada! Foi muito bom relê-lo... hoje em dia faz bem mais sentido pra mim!

Anônimo disse...

Foi o Anônimo que achou o poema! hahahaha Também foi muito bom poder relembrá-lo! ;)