sábado, 20 de agosto de 2011

Corpo



Vendo o filme Cisne Negro, sobre a dura rotina de treinos e competitividade das bailarinas profissionais, eu só tinha um pensamento: como é lindo!! Lembrei de como eu era apaixonada por dança quando era criança. Eu queria ser bailarina, entre outras coisas, e passava o dia inventando passos, tentando fazer giros e ficar na ponta dos pés. Até conseguia fazer espacate! Não podia ouvir uma música ou eu mesma criava minhas melodias e saia dançando por aí...

Com o tempo fui parando - nos querem sentadas, estudantes, bem comportadas. Depois me convenceram que eu era uma negação para os esportes só porque nunca gostei nem aprendi a jogar vôlei. E não importava que eu nadasse bem, que fosse uma boa goleira e vencesse os campeonatos da escola. Era preciso saber o jogo "de meninas" que seria o único de todas as aulas. E me escolhiam por último nos times, e algum professor babaca de educação física já achou que se me desse um monte de bolada eu perderia o "medo". A gente acaba acreditando que não leva mesmo jeito pros esportes, nem pra mexer o corpo. Os movimentos vão endurecendo, se fechando, a dança, o ritmo , tudo parece que vai se perdendo e enferrujando.

Depois disso, outros amigos, outra escola, descobri que podia jogar basquete, ganhar campeonatos com meu time de amigas, discutir esquemas táticos e me divertir muito com tudo aquilo. Mas mais uma vez vêm os estudos, o vestibular, a faculdade, o trabalho...

Quando resolvi me inscrever na capoeira, e nem sei explicar direito o porquê da escolha, fiquei completamente encantada. A música, a dança, o jogo, a brincadeira e a gente amiga. Tanto que apesar das imensas dificuldades continuei e continuo. Adoro a sensação de liberdade de movimentos - o corpo solto que dança, joga, desafia e brinca -, mesmo que seja mais fácil vê-la no jogo dos outros. No final, ainda tem a alegria das rodas de samba!

Nessas férias, após uma oficina de danças brasileiras e contemporânea, constatei que eu realmente quero isso na minha vida. Em casa, percebi de novo aquele rodopio na cozinha, aquela brincadeira com o pé voltar ao corpo sem precisar nem de músicas. De repente, tudo fez sentido: o gosto pelo teatro, pela capoeira, pela dança, até assistir Faustão no domingo por causa da Dança dos Famosos! Não eram excentricidades, eu sempre gostei de tudo que envolvia movimento, trabalho de corpo. Fui enganada na escola quando disseram que aquele não era meu mundo. Mas não mais!

Estou procurando um curso de dança para adultos iniciantes, pensei em balé clássico ou dança contemporânea, mas também pode ser danças brasileiras, afro, salsa, baião, retornar ao teatro... Sem maiores ambições que recuperar essa parte de mim que me faz tão feliz, que faz eu me sentir livre e próxima daquela coisa que somos e estamos sempre buscando não perder, mas que tem sido tão desprezada nessa rotina de trabalho no computador.

10 comentários:

Anônimo disse...

descobri, não faz muito tempo, que o fato de eu não gostar de danças e mesmo de dançar, só demonstra um lado muito retraído meu, adquirido por uma infância cheia de "nãos". quanto eu era criança, dançar ou cantar (músicas)era pecado.
argos

Sarah disse...

Te entendo Argos. Quando era criança dançar também era pecado. Mas era algo que me encantava tanto que não conseguia ficar sem. Minha prima de Itaquá até esses dias tirava sarro de mim: "é Chaves, lembra de quando eramos crianças? Vc dançava pra caramba, no final da festa ficava com peso na consciência porque tinha pecado". Realmente, essa parte rebelde de mim me segue até hoje em todas as convensões sociais e religiosas, mas com a diferença que hoje aprendi a não me arrepender do que não é "permitido". A dança é a única coisa que sei fazer com o meu corpo. Sou toda densengonsada pra tudo, meu corpo nunca me obedece, seja no esporte seja no trabalho minucioso, mas quando chega a dança, não sei, parece que sou outra, que tenho o controle do meu corpo... e essa sensação é uma das melhores que já experimentei...

Anônimo disse...

nossa, vai ver tem essa diferença de pessoas. sempre fui péssima pra dançar. pateticamente "dura". mas me considero com bom desempenho em trabalhos que exigem cuidados pequenos e também sempre gostei de esportes na escola, de todos;
argos

ma disse...

Na aldeia onde minha avó morava, dançar também era mau visto. Fiquei pensando porque isso acontece. Acho que tem muito a ver com a busca da domesticação do corpo feminino para que não se "sexualize". Não que o movimento erotize algo, mas nas sociedades machistas, basta o corpo em evidência para que essa relação seja criada. A outra domesticação do nosso corpo é a para o trabalho, porque se vc não aprender desde cedo a se conter, não vai conseguir passar looongas horas sentado ou em movimentos repetitivos e monótonos. Enfim, isso dá pano para muita manga (e posts, e teses...) ainda

ma disse...

Sua rebeldia é o melhor de vc, Chaves! Me ensina a ser um pouco assim também!
Argos, você é ótima em esportes, poderia estar dando aula de capoeira para mim se tivesse continuado. Não acredito nessa divisão, não, e acho que você poderia tentar romper um pouco dessa barreira, já pensou nisso? Quem faz o que vc faz com o pé na bola já samba, e muito!

Sarah disse...

Sabe que estou percebendo que o Robson está começando a gostar de dançar? Quando vc foi embora da festa Maia, ficamos uns cinco minutinhos lá dançando, na rua mesmo... Acho que o negócio é começar.

ma disse...

Daqui há pouco é ele que vai insistir pra vcs sairem pra dançar, hehe :) Ah, vcs vão ter que me ensinar!!!!!

Anônimo disse...

Nossa,eu sinto uma barreira muito grande. Mas sei q isso diz outras coisas de mim.
Argos

Sarah disse...

Nossa, este assunto deu o que falar... acho melhor marcamos um forró para tod@s irem à forra... rs...

ma disse...

Forró!!